São João de Meriti sediou a terceira edição do Seminário Por uma Baixada mais Leitora

Rede Baixada Literária

Em novembro, tivemos a terceira edição do Seminário Por uma Baixada mais Leitora. Nova Iguaçu, Duque de Caxias e agora São João de Meriti sediaram o evento que tem como principal objetivo reunir e envolver pessoas e instituições no debate de politicas públicas para o livro e leitura na região. Nas duas últimas edições, o Seminário foi organizado conjuntamente pelos polos de leitura Baixada Literária e Tecendo uma Rede de Leitura de Duque de Caxias. A edição 2015 contou ainda com a parceria do Festival Literário Internacional da Diáspora Africana de São João de Meriti – Flidam, evento também em sua terceira edição, juntando escritores, poetas e interessados na produção literária da comunidade negra contemporânea.
Não por acaso São João de Meriti foi escolhida para sediar o Seminário 2015. O município de 458 mil habitantes e a maior densidade demográfica do Brasil (13hab/Km2), tem sua única biblioteca municipal com funcionamento precário dentro de uma escola de música e outros dois espaços de leitura públicos fechados. A única biblioteca equipada da cidade funciona dentro do Sesc e apenas uma biblioteca comunitária está à disposição dos moradores em bairro fora do Centro, em Tomazinho: a Biblioteca Comunitária Nossa Casa, integrante do Baixada Literária. É muita gente para tão poucos livros!
A mesa de debates do Seminário reuniu Elisa Machado, bibliotecária, professora e pesquisadora, coordenou o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas; Vera Schroeder, superintendente de leitura e conhecimento da Secretaria Estadual de Cultura; Fernanda Braga, subsecretária de cultura de São João de Meriti; Fabiana Esteves, orientadora pedagógica e chefe da divisão de leitura da Secretaria de Educação de Duque de Caxias; Jaime Fialho, o Poetinha de Meriti, membro da Academia de Letras e Artes de São João de Meriti; Shirley Garrido, assistente social e coordenadora do polo de leitura Tecendo uma Rede de Leitura de Duque de Caxias e Roberta de Paula, professora e coordenadora da Biblioteca Comunitária Nossa Casa, de São João de Meriti e do polo de leitura Baixada Literária. E foi mediada por Vanessa Vieira, articuladora do Baixada Literária.

O Seminário foi aberto pelo Prof. Rodney Albuquerque, curador do Flidam, que destacou o trabalho de parceria com as bibliotecas comunitárias desde a primeira edição do festival em 2013, que vem se consolidando a cada ano. O festival literário é organizado pela Academia de Letras e Artes de São João de Meriti e pelo IFRJ – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia.

A pesquisadora e bibliotecária Elisa Machado, professora da Unirio, destacou em sua apresentação o papel determinante das bibliotecas na mudança da condição social no país, como espaços de sociabilidade da leitura onde a população pode se apropriar da informação e do conhecimento. Fez também um convite, dizendo da importância da renovação da profissão de bibliotecário com a entrada nos cursos de graduação de pessoas que têm prática de mediação em bibliotecas comunitárias.

A superintendente de leitura e conhecimento da Secretaria Estadual de Cultura, Vera Schroeder, saudou a articulação das três instâncias de governo, federal, estadual e municipal, para avançar na construção de políticas públicas na área da cultura, trazendo benefícios também para o setor do livro e leitura. A SEC RJ vem realizando reuniões e conferências em diversos locais do estado para composição do Conselho Estadual de Política Cultural, pois a sociedade civil tem que ser protagonista das ações culturais. Vera Informou que a superintendência continuará investindo na parceria com as bibliotecas municipais, comunitárias e outros espaços de leitura através do oferecimento de cursos de formação para qualificar as pessoas na mediação e encontros para troca de experiência e vivências.

A subsecretária de cultura de São João de Meriti, Fernanda Braga, falou das dificuldades da área de cultura da cidade que está vinculada à secretaria de educação e não tem orçamento próprio. Mesmo assim, destacou que o município foi o primeiro do Estado a aprovar um Plano Municipal de Cultura, do qual constam artes literárias e cultura da oralidade. Admitiu que o Plano precisa ser ajustado e atualizado. Questionada sobre a precariedade dos espaços públicos de leitura no município afirmou que a biblioteca municipal está aberta ao público dentro da escola de música, realizando atividades regularmente e que outros dois espaços de leitura do município funcionam dentro de escolas, porém com problemas de pessoal devido às exigências da obrigatoriedade de permanência de bibliotecário. Fernanda se colocou à disposição para apoiar qualquer ação de construção de políticas públicas na cidade.

A representante de Caxias foi Fabiana Esteves, chefe de divisão de leitura da secretaria de educação mostrou quais são as ações de leitura, dentro e fora das escolas, que atendem todo o universo de estudantes das escolas públicas e que muitas vezes acontecem em atuação conjunta com a secretaria de cultura. Fabiana é representante da secretaria de educação no Grupo de Trabalho do PMLLB do município.

 

A edição 2015 contou ainda com a parceria do Festival Literário Internacional da Diáspora Africana de São João de Meriti – Flidam, evento também em sua terceira edição, juntando escritores, poetas e interessados na produção literária da comunidade negra contemporânea.

Shirley Garrido contou do esforço das bibliotecas comunitárias para levar a leitura os moradores em vários bairros de Caxias.  O trabalho teve um salto de qualidade com a formação do polo Tecendo uma Rede de Leitura. Disse ainda que o município está avançando na construção de seu PMLLB, através do Grupo de Trabalho, atualmente em articulação com a Câmara dos Vereadores. Destacou que esse é um movimento que transcende a Baixada, falando da formação de uma Rede Nacional de Bibliotecas Comunitárias. A bandeira dos polos de leitura de vários estados brasileiro, afixada na entrada do evento, está passeando por vários seminários em que a mesma discussão de incidência em políticas públicas do livro e leitura está sendo realizada.

O Poetinha, escritor representante da Academia de Letras e Artes de São João de Meriti, disse que a entidade pretende retomar este ano a prática de organizar um grupo de escritores em visitas itinerantes às escolas. O grupo leva poesias para dentro das escolas e já há uma articulação inicial com colégios estaduais. Ainda não foi feita nenhuma articulação no âmbito municipal. Poetinha acredita que a Academia tem muito a contribuir para a criação do hábito de leitura entre os jovens e leu para o público um poema em homenagem a Zumbi dos Palmares.

Encerrando as apresentações da mesa, a coordenadora da Biblioteca Comunitária Nossa Casa Roberta de Paula destacou o papel da biblioteca comunitária na formação de pessoas, mais do que leitores. Mesmo com recursos escassos e nenhum apoio do poder público, disse não estar completamente só porque conta com o trabalho coletivo da rede Baixada Literária para aprimorar sua formação e da equipe da biblioteca e oferecer aos moradores do Bairro Tomazinho uma biblioteca viva, com qualidade de acervo, atividades e atendimento. A situação é ainda mais grave, segundo Roberta, porque sem recursos a biblioteca comunitária corre o risco de fechar, deixando São João de Meriti praticamente sem espaço público de leitura.

No tempo aberto para debates, os participantes se posicionaram sobre vários temas, como  leitura como direito humano, base para a conquista de outros direitos como educação, saúde e segurança; ações efetivas dos governos para manutenção dos espaços de leitura; necessidade de São João ter um centro cultural público, com funcionamento pleno para aglutinar os diversos setores culturais da cidade, tanto da leitura, literatura, como artes visuais, plásticas, etc.

A mediadora Vanessa Vieira encerrou o Seminário reafirmando o compromisso da continuidade da discussão do tema das políticas públicas específicas do livro e leitura em São João, para o qual já se mobilizaram as bibliotecas comunitárias e os escritores da Academia de Artes e Letras. A subsecretária de cultura de São João de Meriti, Fernanda Braga, afirmou que apoia a iniciativa e que irá participar das discussões do tema.

O Seminário contou com a participação de 66 pessoas, com avaliação positiva dos organizadores que pretendiam mobilizar e articular mais pessoas para a discussão de políticas públicas do livro e leitura em São João de Meriti. Este é o caminho que precisaremos trilhar para garantir aos moradores de mais municípios da Baixada o direito à leitura através do acesso ao livro, leitura e literatura em espaços públicos, além do incentivo a escritores, poetas e à produção literária local.

 

Oficinas

Na parte da tarde do mesmo dia, em tendas montadas na Praça da Matriz, as equipes dos polos Baixada Literária e Tecendo uma Rede de Leitura realizaram duas oficinas também como parte da programação do Flidam. Aproveitando o tema do festival ensinamos a fazer bonecas Abayomi e  turbantes, atividades que fizeram sucesso entre o público que passava no local.

 

 Literatura, Patrimônio Cultural e Território

O Baixada Literária também participou do Flidam na mesa redonda Literatura, Patrimônio Cultural e Território com a mediadora de leitura Carmem Valéria Carvalhal, da Biblioteca Comunitária Mágica. Valéria apresentou o trabalho de leitura feito na comunidade do Bairro de Maio, onde está localizada a BC no debate que teve a participação de Luciane Barbosa, coordenadora do Inepac – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural, Alexandre Pimentel, superintendente de cultura e território da Secretaria Estadual de Cultura e Renata Costa, coordenadora de acervo do Sistema Estadual de Bibliotecas.

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SOBRE

A Baixada Literária é uma Rede de Leitura que surgiu de uma necessidade da comunidade em desenvolver hábitos de leitura e melhorar a qualidade da leitura e escrita na população dos bairros periféricos do Município de Nova Iguaçu.